sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Co-co-coimbra

Cheguei já à Coimbra. Coimbra também chegou até mim.

Trouxe em si suas ladeiras de pedras construídas por mãos doutros séculos, doutras vidas, dum tempo já esquecido e pisado. Olhos curiosos andam por esta cidade, por este lugar. Pessoas que olham e desolham. Por aqui o "mais ou menos" não existe. Sim ou não? Sotaque que chia e que parece ter se esgasgado com alguma comida física.

Primeiros dias são dias de dois táxis para cinco malas e três meninas. Dias de escadas com malas, de chão de pedras com malas. "Espera aí que a coluna dói". Gemidos quando se acorda.

Coimbra é cidade de suspiros, de coração que bate forte. Amor, afeto, carinho? Pelas ladeiras. Despreparo físico. Paradas e escoradas em árvores para o descanso. Dormimos demais, perdemos o café do albergue. Companheira que pouco fala num inglês sussurado. Esquece os sapatos, Cinderela. Não volta, somem as malas.

Primeiro dia, um almoço que é pizza. Pizza que não cabe na mão, no prato e até na bandeja. Pepsi. Segundo dia, batatas-fritas, frango empanado, Guaraná Antarctica, Original do Brasil. "Bate palma, mexe a bundinha", um Frank Aguiar português na televisão. Crise econômica, redução de 10% dos gastos nos hospitais. Feriado no Brasil, sete de setembro. Nós aqui, nos perdendo por entre ladeiras, subindo escadas de 225 degraus; são as escadas monumentais. Pelos muros, o grito: "Filha da puta de subida". Alento. "Tempos mudos, mudas vontades", grita outra parede. Aqui elas falam com a gente.

Universidade partida, voltas dadas. Espera em bancos de madeira e homem do outro lado que finge que não escuta a conversa acerca da feira, acerca do próximo passo.

Terceiro dia, mudança. Sobe as malas, abre a porta no escuro, mesmo durante o dia. Nossa casa! Saída para o supermercado Pingo Doce, perdida por entre ladeiras, de sacolas nas mãos. Portugueses dão informações com sorrisos. Faxina no quarto novo.

Continuo. Posto uma música desta vida nova de saberes e não saberes. Já passaram pelo apartamento Gotan Project, Cidadão Instigado, Novos Baianos, Caetano, Gil, Mundo Livre, Cabruêra. Ainda não nos desapegamos deste lindos que vem para não passar!

"Sabe, gente, é tanta coisa para a gente saber.
O que cantar, como andar, onde ir
O que dizer, o que calar, a quem querer

Sabe, gente
É tanta coisa que eu fico sem jeito
Sou eu sozinho e este nó no peito
Já desfeito em lágrimas que luto para esconder

Sabe, gente,
eu sei no fundo o problema é só da gente
É só do coração dizer não, quando a mente
Tenta nos levar para a casa do sofrer

E quando escutar um sambra-canção
Assim como: "Eu preciso aprender a ser só"
Reagir e ouvir do coração responder
"Eu preciso aprender a só ser"
E por aí vamos!

sábado, 18 de setembro de 2010

Texto Bobo

Preciso escrever. A cabeça gira, gira. Ideias querendo, pela primeira vez desde que me lembro que é primeira, no instante de agora, sair e germinar, que nem plantinha nascida recém. Escrever e não olhar para trás, para revisar a concordância e ortografia. É como se tivesse algo relevante a ser dito. O que flutuava e boiava no mar do juízo, quer tomar forma de letra de máquina.

Deixando Descartes positivista para outras gerações, não dividindo o corpo da mente, parte de mim quer dormir porque sabe que o organismo - momento em que todas as áreas que mantem o consenso dentro de você - pensa que está cansado. As pernas doem, a barriga padece com cólicas. Mas isto quer ser visto, quer se sentir vaidoso. Vaidade advinda das leituras alheias do texto que é seu. Seu até agora, porque outras pessoas são proprietárias dele. Por isso mesmo que não há propriedade no assunto.

Tive hoje a oportunidade de assistir a um filme antes de desabar por dentro ou acordar para dentro. Tive antes, num passado bem ou mal passado, a oportunidade de assistir a outro filme. O primeiro é francês e o segundo, norte-americano. Da nossa visão estereotipada, pode-se concluir, ou achar simplesmente, sem me conhecer, o qual mais apreciei.

Tive a oportunidade, hoje, de me conhecer. Conhecemo-nos os dias todos em que acordamos para fora. Não tenho, no entanto, consciência que isso acontece. Isso acontece e acontece, pronto. Percebi que gosto do filme com mais características humanas; gosto de perceber e sentir, dentro de filme, que há uma máquina operada por homem com mãos e olhos. Vi, isso no francês. Ele me desperta vontade de falar dele – do filme. Câmera na mão. Vi muito e achei lindo. Treme, respira, sem linhas e momentos fixos. Dinâmica do humano ser. Cinema.

Vi uma escola. Não era uma escola comum. Mas não existem escolas comuns - roubei um pouco do que diz Jorge Furtado e bebi na escrita de Paulo Freire. Estruturas as mesmas e não mesmas. Início de uma mudança no ensinar. Percebi um professor que, quando do final do filme, não foi reconhecido. Nenhum de seus alunos disse que aprendeu algo com ele, na disciplina. Citaram professores outros, conhecimentos que não os de sua área. Este era o protagonista. Humano. Contraditório, não-equilibrado. “Chamou duas alunas de vagabundas?”, perguntam à ele. “Pode-se dizer que sim”, diz ele, através de uma legenda que não sei se posso confiar. O fim do filme norte-americano deu-se numa festa, se não me engano, com professores e alunos às lágrimas e às gratidões para com a professora.

Necessidade de fazer-se comunicar e de ser comunicado. Digo, de fazer-se entender. Explica melhor e não me acha mais burro se não compreendo o que é dito. Paciência. Há inovações do ponto de vista da educação. Alunos são ouvidos, ou seja, alguém lhes ouve e responde aos seus questionamentos, comprometendo o tempo da aula. E que tempo é esse, se não para ouvir?Barulho, agonia, irritação, vontade de sair do recinto e de gritar e desistir. Passou para mim, a sensação de inquietação. No seriado Malhação vejo a aula como coadjuvante, como cenário. Ali, na película, assisti à aula, vi o que era discutido. Por que a aula não pode ser interessante e tem de ser apenas o lugar no qual as pessoas se encontram? E por que a televisão não pode veicular uma aula que é aula?

Vi também um professor que se recusa a se equiparar aos alunos. Ele pode, mas os alunos não podem. A diferença da realidade real é que os alunos reivindicam esse poder e estimulam essa defesa. Bases antigas. Expulsão do aluno. Passar o problema para outra instituição. Quem terá a coragem de lidar com o problema? Livra-se.

Sinto, no entanto, que o texto é bobo. Teóricos devem já ter pensado nisso e consequentemente publicado. Mas por que eu não posso adaptar o que sou com o que ouço, já que sou um conjunto de vozes? Reproduzo apenas? Não sei.

A escola dava alguma voz aos alunos. Duas delegadas numa avaliação que culminará na média final de cada aluno. Mesas quase circulares, eram as dos locais das reuniões. Várias mesas retangulares dispostas em um círculo que era quadrado. Era o início da transição do retangular para o círculo perfeito.

Silêncio é sinal de disciplina. A calar, aprendemos desde pequenos. A crer como verdade. Mas perceptivelmente, o barulho diminuiu do começo para o fim do filme. Não houve silêncio total, no entanto. Viu-se que as duas partes tinham algo a dizer e a ouvir.

Precisei parar para pensar e não, pensar para parar. Quando via afirmações deste jeito, não gostava, porque tinha de seguir com o pensamento e desfazê-lo, em seguida. “Primeiro compreenda o processo e depois questione”. Não! Não creio. Compreender e no, processo de compreensão, questionar.

Outra aluna filmática (neologismos mil), perguntava ao professor o por quê de ela estar na escola. Está-se dentro do processo, mas não há a possibilidade de compreendê-lo e saber para que serve. Aprendo, mas não sei para onde vou com essa bagagem. Roupas que não se adequam à ocasião quotidiana. Fala-se de outro jeito e não como quando se conjuga um verbo no pretérito-MAIS-que-perfeito. Perfeito.

O filme não se esgota, desgosta. Gosta da gota do toque. Ou toca, ou não toca, já dizia Clarice. Registro. Percebi que assisto à filme lindos, que tocam e que me abraçam. Mas, pouco tempo depois do abraço, vou atrás de abraços outros, por não lembrar-me da cor e do cheiro desse filmes firmes. Quanto a se dizer! São já muitas horas da manhã escura da noite, mas a cabeça de tonta que é, continua a girar quando da real vida.


sábado, 8 de maio de 2010

Diariando

Sábado, último dia da semana. Último para os livros didáticos, sem feira. Penúltimo, diria. Acordar tarde, tirar as roupas que não merecem estar guardadas no guarda-roupa. Arrumar gavetas, jogar papéis no lixo. Papéis interpretados.

O despertador agride aos ouvidos, digo que tire soneca. Dentes escovados, banho frio, pão de cachorro-quente do dia anterior com requeijão, raridade. Café preto mediano, adocicado de maneira mediana. Não sei o que é mediano. Roupa do dia anterior, chinela da irmã, mochila de alças vermelhas. Destino, sete e meia. Chegarei às sete e trinta e cinco.

Portão abre para fora, porteiro simpático, música animada anônima. Duas cadeiras, garagem, elevador. Botão apertado, duas setas vermelhas em direções opostas. Sexto andar, porta aberta, à espera. Cabelo despentado, pijama. Sofá, revista legal. Novidades de fevereiro. Festival de animação em Portugal, queria ir. Márcia. Sexta estressante, muita gente.

Espero.

Espero.

Oito horas, Cecília. Comenta a porta que espera, aberta. Edu. Heleno. Vamos? Vamos. Café? Café. Vamos. Thomaz chega quando esperamos embaixo, escorados num carro. Caminho inédito para os olhos pouco viajados. Polícia pessoense e americana nos assuntos de caminho. Prédio casa de Márcia. Sentamos no jardim pelado. Garças olhando para o portão.

Grade vermelha triangular, ideia para a cena do banho. Não habituada com cinema, ao tentar tirar fotos de Márcia, deixo sombras na locação. Entro na sala de dois sofás, com mesas e cadeiras da infância atormentada. Sento no sofá amarelo que aponta para Sarah Brightman. Márcia transpira, lenços no rosto e cabelos tem de estar arrumados, mexo com a mão. Escondo-me para não aparecer.

Márcia fala, explica, senta, faz pose para as fotos, troca de sandália.

Márcia explica, fala.

Pronto.

Mercado de Mangabeira. Fico na locação, cadeiras de balanço, vento no rosto.

Barriga chama, não atendo. Duas horas. Almoço. Espero, converso. O pessoal chega, almoço na mesa da infância. Compra uma coca! Feijão preto, arroz, macarrão e linguiça compõem o prato de vidro azul. Sensação de paz pós almoço. Chegou a hora da volta para casa.

Casa.



segunda-feira, 1 de março de 2010

Rio Jaguaribe

O rio Jaguaribe, um dos principais componentes do conjunto verde de João Pessoa, padece com a alta densidade ocupacional, com a formação de esgotos clandestinos e com o lançamento de resíduos combustíveis. Levando em consideração que durante a Eco-92, conferência da Organização das Nações Unidas (Onu) sobre o meio ambiente, João Pessoa foi contemplada como sendo a segunda cidade mais verde do mundo, faze-se necessária a avaliação deste este título como correspondente da realidade local.

Atualmente o Jaguaribe conta com duas nascentes principais: uma próxima às Três Lagoas de Oitizeiro, situada nas imediações da BR-230 e outra localizada no bairro Boa Esperança. Originalmente, o rio nascia em uma lagoa ao sul de João Pessoa, hoje aterrada em função da construção do conjunto Esplanada, ação do governo do Estado nos anos 1970. O rio limita-se a leste com o Oceano Atlântico, onde se encontra sua desembocadura, a oeste com a bacia do rio Marés, ao norte com a bacia do rio Mandacaru e a bacia do rio Sanhauá e ao sul com a bacia do rio Cuiá. Juntamente com o rio Timbó, o Jaguaribe forma uma pequena bacia hidrográfica que corta a cidade ao meio, com uma área de 60km² e um curso de água de aproximadamente 21km de extensão.

No seu percurso, o rio cruza os bairros Jardim Veneza, Indústrias, Costa e Silva, Cristo Redentor, Rangel, Oitizeiro, Boa Esperança, Cruz das Armas, Jaguaribe, Torre, Castelo Branco, Tambauzinho, Miramar, Tambaú, Cabo Branco, Manaíra, Bairro São José, Bessa e Intermares. Em muitos destes trechos, o rio é vítima de ocupações desordenadas provindas de conjuntos habitacionais informais, como o bairro São José, que originam problemas com lixo, por exemplo, já que a entrada dos veículos que realizam a coleta torna-se impossibilitada pela latitude das ruas. Este encargo fica então, a critério dos moradores que acabam por utilizar o rio como depósito de seus detritos. Outra prática comum entre os moradores das margens do rio é a do aterramento para a construção ou ampliação de suas casas, o que culmina no estreitamento das margens fluviais. Estas casas tornam-se assim suscetíveis ao escoamento das águas pluviais que trazem consigo o lixo depositado no rio e animais como cobras e ratos. Uma moradora do bairro quando perguntada se o transbordamento rio já havia afetado sua casa, respondeu: “entrou água até o joelho, e era junto de rato, de tudo, barata, cobra, tudo, meu pai colocava umas caixas para a gente andar por cima”. Os postos de gasolina e oficinas localizados próximos ao rio Jaguaribe, principalmente aqueles que se encontram na Avenida Castelo Branco, também contribuem para o agravamento do quadro por lançarem substâncias residuais como gasolina, óleos e graxas no lençóis freáticos.

Segundo a coordenadora do trabalho social comunitário da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), Edith Rodrigues, as medidas de preservação iniciaram-se em março de 2009, como uma iniciativa da Prefeitura Municipal. A coordenadora afirmou ainda, que o trabalho preventivo de limpeza do rio feito pela Autarquia Especial Municipal de Limpeza Urbana (Emlur) contou com o apoio de órgãos como a Secretaria de Meio Ambiente (Semam) e a Defesa Civil. Para a ação no bairro São José, Rodrigues ressalta que cinqüenta residências foram retiradas para que a maquinaria realizadora da dragagem pudesse desempenhar o trabalho e que os moradores encontram-se amparados pelo projeto Auxílio Moradia. Ela destaca ainda, que a comunidade do bairro São José é a que mais afeta o rio Jaguaribe e consequentemente, a que mais por ele é afetada.

Notícia: Mulheres estão insatisfeitas com o governo

O Movimento Organizado de Mulheres da Paraíba não reconhece como algo vigente o compromisso firmado pelo governo brasileiro durante IV Conferência Mundial sobre as Mulheres no tocante à legitimidade da representação das mulheres na programação televisiva. Este é o posicionamento da representante da organização, Glória Rabay, colocado no debate intitulado de Controle Social da Mídia durante o I Fórum Paraibano de TVs Públicas na Era Digital, ocorrido nos dias 13 e 14 de outubro de 2009, na UFPB.

A IV Conferência Mundial sobre as Mulheres aconteceu na cidade de Pequim, em 1995, e nela o governo do Brasil ora representado por Fernando Henrique Cardoso, se comprometeu a atender 12 áreas prioritárias de ação para mudar a situação das mulheres no mundo. A décima cláusula desta concordata trata da insuficiência na promoção da contribuição da mulher para a sociedade pelos meios de comunicação. O que significa “orientar a participação e o acesso da mulher na mídia e promover uma imagem equilibrada e não estereotipada nos meios de comunicação. Isso não tem sido feito”, afirma Glória Rabay.

Em contrapartida, a militante feminista destaca dois fatores que vigoram nos programas televisivos atuais e contribuem para o reforço de imagens limitadas e preconcebidas da mulher: a invisibilidade dos movimentos e seguimentos de mulheres e a falta de espaço para a discussão. A lacuna deixada pela televisão, segundo Rabay, refere-se à não veiculação das reivindicações e ideais do movimento organizado de mulheres bem como de suas conquistas e mudanças que conseguiu introduzir no mundo. Além disso, a não representação das mulheres como trabalhadoras, intelectuais ou especialistas e ainda de seus valores, dificuldades, facilidades, problemas ou questionamentos resulta “no rebaixamento da auto-estima das mulheres e na busca de sua afirmação através da perseguição de modelos e valores de produtos veiculados”, afirma. A militante menciona ainda que o fenômeno da unilateralidade da informação também contribui para o quadro da desvalorização feminina no sentido de trivializar a experiência de vida de cada mulher e por obrigá-las a atender ao padrão veiculado na mídia.

Glória Rabay sugere ainda, como uma das formas de respeito à décima cláusula, a criação algum mecanismo social de defesa, a fim de que se possa recorrer a organismos judiciais caso haja mortificação da imagem não só da mulher, mas também de negros, portadores de deficiência e crianças. Já que “a comunicação é uma via de duas mãos; assim sendo, faze-se necessário ouvir e ser ouvido, ver e poder mostrar, representar e sentir-se representado”, ressalta.

Desta forma, sendo a sociedade diversa e distinta, é imperativo que esta esteja representada na mídia televisiva de forma diversa e distinta, “porque somos a diversidade na vida real”, comenta Rabay. A décima área prioritária surge como meio para que a diferença e a discussão sejam consideradas, mesmo que esta tenha se tornado obsoleta num período de 14 anos. A militante acrescenta ainda: “é fundamental que qualquer pessoa comprometida com a democratização dos meios de comunicação pense as relações de gênero e o debate”.

Texto passado já da validade

Mar de água fria; areia consistente em decorrência de sua umidade e de cor marrom; areia solta e branca que engole os pés quando se anda por ela; asfalto inóspito com listras e desenhos brancos ou amarelos; casas de porte modesto e algumas nem tanto, localizadas em ruas mais ou menos hospitaleiras; algumas árvores decapitadas, outras com suas raízes limitadas aos quadrados com terra rodeados de concreto e poucas livres da civilização. Estes aspectos podem caracterizar uma pequena cidade de vida pacata e sem acontecimentos que despertassem a curiosidade da mídia nacional ou mesmo, internacional.

As ruas estavam desertas e apenas um homem de pele clara que avisava que não vinha dos trópicos, era notado no calçadão colorido. A voz aguda lhe conferia um aspecto delicado e sua estatura miúda lhe dava uma aura de fragilidade. Mas quem o teria visto e ouvido sua voz? O relógio marcou oito horas e as pessoas iniciaram as corrida da casa ao trabalho. Enfrentavam semáforos e enfrentavam a si mesmos. O homem caminhava lentamente pelo cenário João Pessoa e ninguém o percebia.

A pessoa era Truman Capote, que andava pela orla de Tambaú observando atentamente o tráfego e o movimento. A temperatura passava dos quarenta graus. Andando mais um pouco, Capote encontrou uma sombra pequena de coqueiro e, como que de brinde, uma brisa fresca encostou-se ao seu rosto. Seu semblante não era dos melhores. Ele procurava algo e não tinha sucesso.

Saindo do ambiente praieiro e indo para bairros onde a vida parecia mais interessante para o rascunho de um livro, Capote chegou ao bairro São José. Seu rosto parecia ávido por informações, histórias. Aos poucos, o homem começou a conversar com os moradores, curioso para saber o que se fazia e o que se comia. Assim, com uma pequena noção do idioma português já incrustado no seu cérebro, Capote conversava, comia e dormia no mesmo local dos residentes. Consequentemente conheceu o rio Jaguaribe, suas origens e a sua utilidade para a população.

Passou mais um ano aumentando seu conhecimento sobre o português e sobre a comunidade do bairro São José. Era a prática jornalística que fora concebida por ele, o New Journalism em cena. E era o que era gostoso de fazer, de vivenciar. Era Truman Capote.

A verdade é que, neste momento, não se sabe onde se encontra Capote. Não se sabe se ele encontrou motivos para se fixar na cidade, no bairro São José, ou mesmo, se ele voltou para sua terra natal. A mídia internacional tentou apurar o fato e descobrir onde a figura se encontrava, mas não foi bem sucedida. Mistério.
Este texto esteve já aqui, no mês de dezembro. Exlui-o e agora reponho não sei com que intuito. Deve ser o ser que muda. Engraçado como não me reconheço nestes sentimentos, neste momento.



Tenho escrito pouco, tenho pouco lido. As palavras fogem de mim e eu me atrapalho com sua ortografia, com a pontuação.

Eu já não me lembro de quem eu era. Irônico, porque eu esqueço de quem sou.
As lembranças não deixam que eu pense no que eu pensava. Escrevo para deixar vivo na memória o que eu era e, no entanto, o que sou neste momento.

Não percebo dentro de mim o que é dito por bocas alheias. Pelo menos não na nomenclatura.
Em outro momento, já falavam na palavra "sofrer". Não sei consigo dizer quem falava. Talvez a televisão e o clichê.

Procurei no dicionário a definição da palavra: ser atormentado, afligido por; passar por, experimentar (coisa desagradável ou trabalhosa); sentir dor física ou moral.

Para mim, esta palavra significa a ausência de sorrisos, o mal-estar neste mundo, a pouca absorção e pouco impacto que as situações causam. Há um olhar perdido, um andar perdido, conversas perdidas. Há a falta e a lembrança que os bens materiais trazem aos imateriais. Há o vazio, a indiferença e apatia com o que acontece.

Há também raros momentos de alívio, a angústia pré-domina. É interessante como a mudança de sentimentos é brusca. Há um quê de adaptação que dura semanas e não passa.

A minha casa ainda está bagunçada. Não tenho vontade de limpá-la. Não tenho forças para juntar os cacos de vidro espalhados pela cerâmica. Poeira e solidão. A casa de mim, a casa em que eu estou. As pessoas bagunçam e eu, sozinha, tenho que carregar a vassoura e a pá da renovação. Juntar, carregar, limpar, por no saco de lixo para que alguém carregue os machucados e deposite-os no lixão dos sentimentos que causam tormentas.

Não é conforto que eu sinto quando ouço vozes estranhas e vejo roupas novas, é só vida correndo o córrego sem mim.

Quem é quem?

Natal sem presentes, sem presença. Não há aquela espera desesperada pelo badalar da meia-noite. Já não sei o que há com toda esta gente. Como pode? A vida é frágil, assim como seus sentimentos de afeto. Os confeitos deixam de brilhar e se apagam. O brinquedo se substitui por outro mais colorido. E quem pode reclamar? A resignação consegue voz meio a tantas outras.

"Alguns hotéis são grandes demais para um hóspede só".

Boa sorte na vida. Vida boa na sorte.